Dicas para DJs

Músicas comerciais, tocar ou não tocar?

Este artigo tem como proposta incentivar uma discussão proveitosa sobre um assunto polêmico que existe na cena DJ sobre a utilização de músicas comerciais nas suas apresentações.

Primeiramente, é importante esclarecermos aos leitores os termos básicos necessários para o entendimento adequado dessa discussão. O termo música “comercial”, muito empregado nesse meio, refere-se a músicas que tocam bastante nos meios de comunicação em massa, especialmente no rádio, intituladas também de músicas “da moda”. Contrário a essa definição, temos as músicas “underground” ou alternativas, rótulo dado a músicas desconhecidas, geralmente de novos produtores ou sem expressão global. Até esse momento, nenhum julgamento de valor foi realizado em relação a essas duas vertentes, apenas definições. Ambas possuem vários adeptos, tanto DJs, quanto público.

Um ingrediente de relevância ao tratarmos desse assunto é a constante metamorfose que os estilos sofrem durante o tempo.  Originalmente, o movimento Clubber, surgido na Inglaterra na década de 90 e mais divulgado no Brasil no seu meado, tinha como intenção a diversão conciliada à música eletrônica e levou para as danceterias (clubs) diversas pessoas pelas capitais mundiais. A cultura Clubber andou paralelamente com a evolução da música eletrônica colaborando para diversos eventos de grande porte, também conhecidos como raves. Entretanto, esse tipo de evento vem perdendo força pelas denúncias de consumo exagerado de bebidas alcoólicas e drogas. Ao mesmo tempo, há uma tendência de algumas músicas eletrônicas se aproximarem do gênero POP, com melodias mais variadas e utilização de vocal envolvente, com o objetivo de terem maior aceitação global, ou seja, enfase no apelo da divulgação, imagem e status, esquecendo do amor pela música. Essas mudanças de conceito colaboram para a inclusão de novas pessoas ao movimento, porém, algumas podem não participar dele como aquelas seguidoras do estilo pela essência. Movimentos de metamorfose aproximam-se dos movimentos de “moda”, retornando às origens em intervalos regulares de tempo. Tanto é que já é percebido atualmente, nas danceterias e eventos, o fortalecimento da música eletrônica com grooves mais animados e vocais interessantes muitas vezes com referências ao old school (velha aguarda).

Após essa atualização da situação atual, voltemos para o assunto chave desse artigo, a discussão entre música comercial e música alternativa. Como o tema é polêmico, é recomendado a leitura de outros artigos, a troca de ideias com DJs e participantes dos movimentos que divulgam as culturas musicais e um pouco de senso crítico. Esse artigo não pretende fechar questão, apenas alimentar de informações úteis para que a discussão possa ser melhor entendida e dar suporte à formação da própria opinião do leitor.

Na teórica disputa entre a música comercial e a underground, há de analisar algumas considerações a respeito de cada uma, tentando ser o mais imparcial possível. A primeira questão é que muitas músicas relacionadas como comerciais conquistam um grau de reconhecimento a partir da metamorfose comentada nesse artigo, que atualmente são mais aproximadas ao estilo POP e dessa forma agradam um grupo muito maior de ouvintes. Por outro lado, existem também aquelas cujo o interesse está intimamente ligado a área comercial do que a musical. Mas uma análise precisa desse conceito é muito subjetiva e nem sempre será possível. Então, o interessante é analisar os recursos musicais desses hits para tentar filtrar aqueles que são produzidos por profissionais talentosos, com qualidade, inteligência e que possuam uma levada empolgante e compatível com o gosto musical dos envolvidos. A discriminação imediata das músicas rotuladas como comerciais, sem essa análise crítica, pode contribuir para o descarte de um material de qualidade realizado por pessoas sérias e que pode agradar tanto você, quanto o seu público alvo. O preconceito geralmente não soma, apenas diminui. Além disso, as músicas comerciais tem um papel relevante na cena eletrônica, que é ser uma porta de entrada para os simpatizantes, submetendo-os a uma nova experiência e que talvez possa torná-lo mais um adepto dessa cena.

Então, de acordo com o exposto até aqui, os DJs devem tocar apenas músicas comerciais? Não. A limitação em apenas uma classe, estilo ou gênero, as vezes é muito arriscado. Muitos profissionais pensam que tocar músicas comerciais é escolha certa para ter a pista bombando e agradar a maioria do público, mas cuidado! Agindo dessa forma o DJ torna-se um animador, um music box, ou seja, apenas um tocador de músicas da moda, sem critério. Essa atitude o torna apenas mais um DJ, igual a vários outros, ou seja, sem personalidade (Leiam o artigo: “DJ ou Jukebox?“).

Como o papel do DJ é ser um educador musical, um profissional que pesquisa os diversos estilos e tendências e os seleciona de acordo com o perfil do seu público, sempre buscando a batida e combinação perfeita, é interessante a dosagem consciente desses dois tipos de música. Vale lembrar que as músicas consideradas underground proporcionam contato com novos produtores, novos projetos, criatividade inteligente, ou seja, é pura cultura musical, como um tempero picante na apresentação de cada DJ. Mas evite exageros, tempere com moderação sem deixar de arriscar. Esse diferencial é o que define a personalidade do profissional, essencial para o seu sucesso e reconhecimento perante o público. Isso faz bem para a alma e para o corpo, experimente!

Reflita sobre o tema, elabore um banquete musical e sirva bem quente ao seu público.
Boa sorte, sucesso e até mais!

CleverDJ

07 de agosto de 2012

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